A grande maioria dos cientistas sabem a importância que um padrão de referência representa para a indústria farmacêutica, bem como da garantia que este produto traz para as diversas rotinas farmacêuticas (Desenvolvimento, validação, equivalência, controle de qualidade, etc), mas o que muitos ainda não sabem é como este produto é fabricado e também quais exigências este produto deve atender.
Atualmente, devido a insegurança perante o órgão fiscalizador, algumas solicitações técnicas de qualidade por parte dos requisitantes são efetuadas de maneira exacerbada, como por exemplo estudo de estabilidade. Padrões de referência possuem em sua essência, a calibração de equipamentos, em outras palavras, a garantia de que ao realizar a leitura do composto desconhecido, seu equipamento esteja devidamente calibrado para identificar (as vezes também quantificar) a presença de tal material.
Por que então exigir um estudo de estabilidade?
Caso o padrão venha a se decompor antes do prazo de validade, ao efetuar a curva de calibração do equipamento, o analista notará que o sinal apontado não confere com o certificado emitido pelo fabricante do padrão e automaticamente não utilizará o mesmo. O estudo de estabilidade poderia sim auxiliar o fabricante na inserção da data de validade, mas isso é minimamente necessário para a real necessidade de um padrão de referência – garantir a boa calibração do equipamento. Antes de solicitar qualquer especificação técnica adicional é importante entender o real motivo para isso, a importância e a influência que a solicitação poderá causar na real essência do padrão de referência.
Para entendermos melhor as especificações que os fabricantes de padrões de referência buscam atender é muito importante saber como os padrões são produzidos e as principais diferenças entre os padrões de referência, reagentes químicos e IFAs.
Geralmente os padrões de referência são produzidos de 04 maneiras:
1) Produzido por síntese: Uma rota de síntese é desenhada para obter o produto desejado. Em boa parte das vezes, após a síntese o material tem que ser purificado, pois a presença de impurezas eminentes do processo de síntese podem estar presentes, como: Solventes, sais e umidade. A purificação pode ser por cromatografia, liofilização, etc.
2) Produzido através de separação: As vezes o composto químico desejado está presente em uma mistura, a qual chamamos de material cru ou material cru inicial. Nesta condição o fabricante efetua a “retirada” do composto desejado através de diversos métodos possíveis.
3) Extração natural: Alguns padrões de compostos naturais são extraídos diretamente da própria planta, geralmente folhas, mas também frutos e caule.
4) Doações ou compra de fabricantes: As vezes os fabricantes do próprio IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo) já possuem o composto desejado para vender, não somente do princípio ativo, como também de suas impurezas e assim basta adquiri-los ou recebê-los como doações.
O que todos os métodos de fabricação listados acima possuem em comum é a etapa posterior. Após obter o composto desejado, os fabricantes de padrões de referência devem comprovar e garantir a Pureza, a estrutura e, se necessário, a potência (pureza tal qual) do padrão de referência com técnicas precisas e equipamentos de alta tecnologia. Vale lembrar também que estas comprovações não devem ser suscetíveis a questionamentos, elas precisam ser fiéis e descartar qualquer ambiguidade ou dúvida. Nestas condições os fabricantes asseguram ao cliente que, ao usar seu padrão de referência, o cliente estará seguro de que seu equipamento estará devidamente calibrado.
Uma vez que as estrutura e pureza são comprovadas e garantidas, por que então podemos assumir que solicitações do tipo estabilidade e BPF poderiam sim ser descartadas?
A resposta é simples, esse tipo de exigência é direcionada a produtos de consumo humano, e é exatamente nesse momento que diferenciamos Padrões de Referência, Reagentes e Ativos Farmacêuticos.
Padrão de Referência: Deve ter sua estrutura e pureza comprovada
Reagente: Na maioria das vezes, apenas comprovação da pureza
Ativos Farmacêuticos: Atender as boas práticas de fabricação, atender exigências sanitárias, possuir alta pureza, comprovação da ausência de compostos prejudiciais a saúde, etc.
Com as descrições acima, é possível visualizar com mais facilidade que os processos de fabricação entre os três tipos de produtos muito provavelmente sejam diferentes, pois o uso e finalidade também são distintos, bem como as exigências físico-químicas e sanitárias.
Seria excelente saber que temos padrões, reagentes e ativos farmacêuticos tudo da mais alta qualidade, com estudos de estabilidade, certificados de análises e inspeção extremamente completos, fabricação sob condições de boas práticas, etc, mas será que isto seria realmente necessário? Será que o mercado estaria disposto a pagar por produtos premium? Claro que não! É exatamente por isso que hoje existe estas distinções, caso contrário teríamos apenas Ingredientes Farmacêutico Ativo, não precisaríamos ter a categoria de compostos chamados padrões e reagentes, dentre outras.